Umas das questões que chamam a atenção na história na América do Sul é o porquê a Argentina, que passou pelos mesmos processos colonizadores baseados na escravidão negra assim como seus vizinhos, tem tão poucos negros entre sua população. Estimativas calculam que a população negra na Argentina gira em torno de 3% a 5% da população total, isso seria normal se os dados não apontassem que em finais do século XVIII, a população negra chegou a ser 50% do total.
Algumas questões explicam esse fenômeno, entre elas, a mais aceita é a utilização de negros jovens e saudáveis nas diversas guerras que a Argentina enfrentou durante o século 19. Batalhões de negros mal treinados e mal armados eram colocados na linha de frente, resultando em diversas perdas. Mas só isso é insuficiente para entender o porquê do desaparecimento dos negros na Argentina. Assim como Brasil e outros países da América, o pós-abolição na Argentina foi marcado por um projeto de embranquecimento da população e os negros foram deixados na margem da sociedade. Consequentemente foram os mais prejudicados pelas epidemias e pela fome que dizimou grande parte da população negra. Quando os imigrantes europeus chegaram na Argentina, restavam poucos negros vivos.
A miscigenação também é essencial para entender esse fenômeno. As guerras acabaram com muitos homens em idade e condições favoráveis a reprodução, o que causou, entre outros fatores, uma baixa taxa de natalidade. Muitas mulheres e famílias negras viam a miscigenação com os brancos como a única saída para ser integradas na sociedade, visto que um projeto de embranquecimento atua principalmente nas mentes dos oprimidos. Se aproximar ao máximo do branco europeu era se aproximar também da sociedade e do futuro que se colocava na Argentina. O que fica claro é que a Argentina "obteve maior êxito" que o Brasil no extermínio dos negros. Hoje, muitos Argentinos se orgulham de sua origem europeia e negros argentinos são tratados como estrangeiros em grandes centros como Buenos Aires, mas o que muita gente não sabe é que toda essa europeização da Argentina só foi possível com o aniquilamento e extermínio de milhares de vidas pretas.
Texto de Ramon Vitor.
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