Nascida como José Arimateia Carvalho da Silva, a travesti
Cintura Fina é uma personagem icônica de Belo Horizonte. Cintura Fina nasceu em
1933 em Fortaleza, no Ceará. Perdeu a mãe no parto e foi criado por suas tias.
Só teve contato com o pai aos 14 anos, mas não criaram laços familiares.
Durante sua infância, sofreu muito bullying por ter um jeito mais afeminado e
na adolescência foi para o seminário onde provavelmente teve sua primeira
experiência homossexual. Ao sair do seminário, não voltou para a casa das tias
e passou a morar na zona de meretrício de Fortaleza.
Antes de chegar até Belo Horizonte em 1953, passou por
Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Teve diversos trabalhos,
incluindo a prostituição. Em BH, morou no bairro Lagoinha e fez parte da vida
boêmia local. Onde ela trabalhava era bastante violento, confusões eram
constantes e ela teve que se adaptar para se defender de várias situações que
mulheres e travestis que trabalham nas ruas são expostas, principalmente num
período onde a homossexualidade ainda era pouco discutida e era criminalizada.
Foi nesse universo que Cintura Fina construiu uma fama.
Era tida como educada e carinhosa por quem a conhecia, mas pintada como
marginal, traiçoeira e perigosa pela imprensa que sempre a retratava com base
no preconceito da época. Andava armada com uma navalha na cintura e ficou
conhecida por defender muitas prostitutas que eram agredidas pelos clientes.
Inclusive sua primeira prisão foi por defender uma conhecida que estava sendo
agredida em um bar - Cintura Fina puxou sua navalha e foi em defesa da colega.
O caso acabou na delegacia.
Esteve envolvida em no mínimo 18 processos, as vezes como
ré e outras como vítima, mas sempre em processos pequenos, sendo geralmente
confusões e brigas. Na sua primeira detenção, foi levada a delegacia toda
montada, maquiada, sobrancelhas pinçadas, unhas esmaltadas, cabelos cortados ao
modo feminino. Era uma ousadia e disparate sem igual para uma sociedade
homofóbica e marcada por uma patologização da homossexualidade.
Cintura Fina e sua navalha defendiam uma categoria da população que o estado atacava e até hoje ignora, que são as mulheres e travestis que trabalham com prostituição nas ruas. Muitas vezes optam por esse caminho por falta de oportunidades de trabalho, principalmente no caso das travestis, que quase nunca são aceitas em empregos formais.
Referências:
https://projetocolabora.com.br/ods5/cintura-fina-perseguida-por-policiais-e-amada-por-prostitutas/
https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/62,355,59,45/2021/01/24/noticias-artes-e-livros,267338/livro-reconstroi-a-trajetoria-de-cintura-fina-lenda-boemia-de-bh.shtml
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